terça-feira, 12 de agosto de 2014

REFLEXÕES*

Não só os pobres e desvalidos necessitam de caridade. Às vezes, os nobres e ricos é que são os mais carentes. (*)

Praticar a caridade para com os desvalidos é importante, mas não o suficiente. É preciso que se lhe dê não apenas o pão e o peixe, mas o anzol e a técnica da pescaria, a fim de que ele aprenda a suprir suas próprias necessidades. Essa é a verdadeira caridade.
Aos ricos e nobres, cujas necessidades materiais são por demais suficientes, também poderemos agir através da caridade, levando-lhes atenção e amor, a fim de que eles descubram que há uma riqueza ainda maior no seio da Humanidade: o amor.
A propósito, conta-se a história de uma menina que morava numa pequena casa de tábuas, bem no meio da floresta. Certo dia acordara bem cedo e, insone, foi à sala, sentou-se no sofá e passou a ler um livro, dentre os muitos que possuía, quando bateram à porta:
Toc – toc – toc...
A criança parou a leitura e foi atender.
Eram três velhinhos andarilhos. O que se vestia de vermelho falou:
– Minha filha, por favor, caminhamos, desde a tarde de ontem, estamos sedentos e cansados. Precisamos de água e abrigo, atenda-nos por caridade.
A garota olhou os velhinhos e respondeu:
– Compreendo a situação dos senhores, mas só posso servi-lhes água. Abrigá-los não consigo porque minha é casa é tão pequena, como os senhores estão vendo, que mal cabe nossa família.
A menina pediu licença e foi buscar a água e os serviu do lado de fora, porque sua casa, como alegara, era de fato muito pequena.
Saciada a sede, o velhinho de vermelho insistiu:
– Mas, minha querida, seja compreensiva e perceba o quanto estamos cansados de tanto caminhar.
– Já lhes disse que não posso atendê-los, porque minha casa é pequena demais. Mal cabe minha família. Se fosse um de cada vez, bem que poderia tentar, mas os três, ao mesmo tempo, não é possível.
– Bem, já que a amiguinha acha que poderia nos receber um por vez, qual de nós receberia primeiro?
– Eu nem os conheço! Quem são os senhores?
– Eu sou Sucesso. Não vê como sou falante!
– E aquele outro lá, vestido de púrpura?
– Aquele é Fortuna, meu melhor amigo!
– E aquele outro lá, vestido de azul?
– Aquele é muito velho...
– Sim, bem sei! Está se vendo pela fisionomia! Como é o nome dele?
– Aquele é Amor. É tão velho que está quase no fim da vida!
O velhinho Sucesso voltou a inquirir a menina:
– Vamos, minha filha, decida logo qual de nós deixará entrar primeiro.
– Deixe pensar! – disse a garota, colocando o dedinho da mão direita na têmpora como se estivesse a avaliar a situação. Por fim, determinou:
– Que entre primeiro o que está vestido de azul!
Assim que o velhinho mais idoso entrou, os demais companheiros invadiram a sala, fazendo com que a menina reagisse, expulsando a todos.
Tentando explicar o acontecido, disse Amor:
– Minha filha, se existe alguém errado, assumo a culpa.
– Pelo contrário. O Senhor foi o único que mandei entrar. Pela invasão de privacidade que seus amigos cometeram expulso a todos, inclusive o senhor.
– Explico melhor e espero que você entenda. Se a amiguinha tivesse convidado aquele lá, vestido de vermelho, apenas ele teria entrado, porque ele é Sucesso. Do mesmo modo, se tivesse mandado entrar o outro, vestido de púrpura, somente ele teria entrado, porque ele é Fortuna. Mas como você me autorizou entrar na sua casa, tudo de bom vem comigo: Sucesso, Fortuna... afinal, eu sou Amor.
Naquele instante a menina estava tão embevecida com as palavras macias do velhinho, e nem percebeu que, àquela altura, ela já servia mecanicamente cafezinho e biscoitos aos três viandantes ao lado dos pais dela e ainda havia bastante espaço na casa.
A partir daquele momento, a menina aprendeu que não existe casa, por menor que seja, que nela não caiba Sucesso, Fortuna e Amor, desde que Amor entre primeiro.
Afinal, sem amor nada é possível. Com amor tudo se torna mais fácil.





(*) Extraído do livro “Amor Eterno”, escrito por Edvaldo Arlégo e Marileide Tavares, o qual será lançado nos dias 30 e 31 de agosto, no bairro do Recife, por ocasião do Festival de Literatura do Recife.

Um comentário:

  1. Não me Contive em Apenas Ler. Li e Reli e Achei Pouco, Pois Tenho Certeza Que Merece Ser lido Muito mais de 2 Vezes. Um Maravilhoso Texto. Parabéns Mestre Edvaldo.

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