Talvez por conta disso, quando ela parçtiu para o além, escritores que éramos, deixamos de escrever uma palavra sequer. Ela, por conta de ido para o céu, eu, porque me faltava inspiração, ou até mesmo a presença da principal crítica da minha obra.
Não abandonei o computador, porém com ele não mais dialogava, somente lia o que a tal máquina tinha para me dizer, num monólogo sem sentido. Não havia mais diálogo entre nós. A outrora ferramenta de criação tornara-se mero equipamento de distração. Não conto as noite em que cochilei sobre o teclado. O escritor morrera de saudade, pensei.
Os filhos não me deixavam só. Todas as noites eles se revesavam para me fazer companhia, talvez tementes que eu, já velho e cardiopata, viesse a precisar de ajuda e não ter alguém por perto para me socorrer. Era a natural retribuição que eles me prestavam em troca das noiotes insones que nós passávamos quando eles adoeciam no tempo de criança.
O zelo que têm por mim era tanto que muitas vezes quegavam a agir com energia para que eu me mantivesse ativo e saudável. Nunca me deixavam só. Porém, faltava muito para preencherem a lacuna deixada pela ausência da mãe deles, a qual se tornara uma tatuagem em meu espírito. Não adiantava me levarem para passear nos cinemas, nos shoppings, ou em qualquer outro lugar, porque onde quer que fôssemos, tudo em torno de mim, lembrava ela: restaurantes, sapatarias, lojas de roupas, bolsas, tecidos e até de bugingangas, as famosas lojas de R$1.99, me lembravam minha esposa, tantas e tantas vezes que raíamos a passear. Sua presença era uma tatuagem indelével, que eu escondia dos filhos para não ter de magoá-los,
Como é natural, aos 75 anos de idade, eu já havia passado por várias experiências de perdas, as quais me fizeram sofrer a cada momento vivido. Quando perdi minha avó materna, uma italiana que marcou a minha vida com a dedicação e carinho com que me tratava, paplail a substituiu. Quando papai partiu no dia 27 de nvovembro de 1964, exatamento no dia em que completava 35 anos de casamento, pensei que o mundo caíra sobre meus ombros. Não fosse a presença marcante de mamãe para substituí-lo, talvez eu não resistisse a perda. Com a morte de minha mãe, restou-me dona Maria de Lourdes Codeceira Pena, minha sobra-avó, a qual não me deixava faltar nada em termos de atenção e carinho. Porém, um dia ela também se foi aos 94 anos de idade, lúcida, alegre, festeira e atenciosa para comigo. A partir de então minha mulher a substituiu. Por fim, perdi meu filho caçula dos homens. Uma perda irreparável a qual só me foi possível suportar porque cada um dos seus irmãos deram-me um pedaço do si para preencher a lacuna deixada por ele em meu coração, e assim, me permitiram suportar a dor mais cruel que um pai pode ter. Porém, quando perdi Marileide, minha esposa, quem haveria de substituí-la? Os filhos tentaram, é bem verdade, porém não tinham como fazê-lo por mais que se esforçassem.
Com a partida de minha esposa, na verdade, meu desejo era sonhar com ela. Jamais o conseguira. A frustração tomava conta de mim, fazendo-me sofrer ainda mais. Eu me indagava: por que quando minha cara metade era viva eu sonhava tanto com ela mesmo que dormisse ao meu lado e agora, depois de morta não sonhava mais? Será que depois que se morre nos evaporamos? Será que a alma não existe? Eram indagações que martelavam minha cabeça sem que uma resposta fora dos ensinamentos religiosos sequer me fosse apresentada.
Certa noite, sem consleguir conciliar o sono, fui à estante e retirei o livro "O Último Farol", cuja primeira história, "A Dança dos Ossos" escrevi para ela contando como foram nossas vidas até a morte dela, a qual seria a última a falecer entre os famililares. Era um livro que marcaria os nossos 53 anos de casados e lseria lançado no dia 23 de novembro de 2013. Marileide, como fazia sempre, leu o livro nos originais e aprovou a narrativa, porém não participou do lançamento, pois morrera antes, no dia 27 de outubro. Que pena!
Li e reli o lilvro até adormecer sobre ele. Dormi como uma pedra. Nem o clarão da manhã me fez acordar. Ainda bem, porque havia sonhado com ela. E que sonho! Ela conversava comigo, encorajando-me a continuar a escrever, revelando-me haver escrito comentários sobre os vários pensamentos e aforismos que eu havia escrito, alegando que o fizera porque a maneira muitas vezes irônica que eu falava das coisas sérias e provocava no leitor riso em vez de reflexão. E exemplificava tal situação com o pensamento: "Ao lado de um homem de sucesso sempre há uma grande mulher. Ao lado de um fracassado tem, pelo menos, duas".
Concordei com sua opinião e perguntei estavam tais comentários. Sem mais nem menos, forneceu a senha do seu computador e disse que eu os encontraria lá e, se gostasse, poderia usá-los.
Quando o dia clareou acordei e antes do café matinal fui ao computador dela, acessei a tal pasta e mergulhei nas frases escritas a muito tempo e à medida em que surgia um pensamento segui o respectivo comentário feito por ela, deixando-me a nítida impressão a martelar a minha cabeça: NÃO FOI UM SONHO, ELA ESTEVE A NOITE TODA AO MEU LADO. PENSEI ATÉ SENTIR O CALOR DO SEU CORPO JUNTO AO MEU DURANTE A MADRUGADA. E assim, nasceu este llivro escrito por nós dois: EU E A MULHER QUE DEUS COLOCOU EM MEU CAMINHO PARA ME FAZER CRESCER EM TODOS OS SENTIDOS.
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